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Preface by Pallavi Paul     (PT, FR & DE abaixo)

It is difficult to write about the whole world at once. It is even more difficult to write about the whole world when it is exploding. Furthermore, it seems impossible to write about a world that is simultaneously and persistently disestablishing and re-establishing itself each second. And yet, it must be attempted, for this audacious ablation and re-creation is the very life force of Guerreiro do Divino Amor’s practice. The ‘superfictional’ World Atlas that Divino Amor has spun over the years is not just an effort to implicate various locations such as Brazil, Brussels and Switzerland into the larger story of colonialism, extractivism, political corruption and spiritual dereliction – but it is also a formal strategy to de-territorialize, critique and foundationally interrogate the shape of the world as we know it. Here images pixilate but also clump together, they are at once mutilated and embellished, they provoke each other through color, sound and movement. It is a world where the excess within images is unlocked and tapped as brine in which the life of concepts, history and politics can be extended, not for reification, but for critical examination. Divino Amor achieves this via the invention of a mythical cosmology that has looped, folded and unfolded through six ‘chapters’, the latest of which is the “The Miracle of Helvetia”, set in Switzerland, a country that Divino Amor has an intimate connection with on account of being half swiss himself.

Before delving more freely into the mutinous weave of chapters that structure this show and his practice, it is useful to pay mind to the idea of the miracle itself. Emerging from the Latin word mirari, to wonder, a miracle in its inception is an occurrence that offers no logical closure. It appears to require, as its cause, something beyond the reach of human action and natural causes. Hence while creating the impression of a divine deliverance, it must necessarily thwart the argumentative and disputatious currents of life. While there has been a long history of theological debates about the status of the miracle within religion, what has remained largely intact is the idea of it belonging to the realm of the ‘supernatural’. Here ‘supernatural’ is not just an extension or amplification of the ‘natural’, but can also be read as its very inverse. Where the natural must break down to make way for something in excess of its rules and expectations. This could very well be an allegory for the different kinds of ‘superfictions’ that Divino Amor produces, where his encyclopaedic research cloaked within low-res animation, choppy sounds and ostentatious action interrupts the naturalised ‘fictions’ of capitalistic societies. Visuals reach a kitschy, cataclysmic fever pitch as a ‘natural’ conclusion of an unnatural and oppressive system claiming a divine capture on life.
 
This supernatural miracle undergirded by economic, sexual, racial and military violence is performed by a pantheon of ‘goddesses’ in the Helvetica chapter. The divine ministry imagined by Divino Amor comprises: Scopula, Friedena, Gudruna, Calvina, Ævuma, Desideria Remotta, Seminatora, Silentia, Kulma, Diewiesa Æterna – all representing “superfictional” virtues of military might, racially ‘pure’ beauty, physical strength, carefully measured and sacred modern time, pristine regimented space, an ageless master race, imperialist expansionism and luxury in the lap of nature. As each of these goddesses appear on the screen and on the pages of this magazine, Divino Amor throws into relief a complex web of collective psychoses that emblematize the power of the ‘Olympus master race’. Vampiric in it’s relationship to Amazonia, Switzerland’s quintessential other, we encounter concrete examples from contemporary history that take us deep into the dark underbelly of mother Helvetica. In a perverse exchange, all ‘superfoods’ like acai, cupuaçu and guarana which contribute towards and draw from the ecological wealth of the Amazon region are taken to the Helveticum to nourish its people, while a Nestlé boat sails down the waters of the Amazon distributing cans of condensed milk and products loaded with processed sugars and other chemicals. The miracle of a “super-able” Olympic race flashes at us a dark machination, fuelled by the power of extractive global capital.

This miraculous universe then can only produce catastrophe. A journalist, a hacker, a self-taught image maker, a Photoshop sorcerer, an architect, an impish prophet- Divino Amor is all of these at once. The aesthetic he blesses us with mirrors the catastrophe of the twin miracles of imperialism and capitalism. Colours run amock, spaces dissolves to float and etherize, the body becomes a playground of twisted fantasies- faeces become data and vision transmutes into radiation. Each moment in the work is an explosion of tightly coiled histories from the 7th century to our immediate contemporary. Divino Amor, however, deals with the dark and heavy residues of this long history with a sharp catastrophic humor. Through the techniques of absurd juxtapositions, tapping into popular culture from all over the world, using tourism videos as indices of the country’s self-image, deploying hyperbole as a narrative device, he is able to take us through millenia with the fast and assured pace of a seasoned sprinter. Entering the world of Divino Amor is like entering an architecture of vibrating shards, refracting and splitting the narratives of power into a riot of colours. Through this digital wilding of the image he is able to invent an audience that cannot simply claim to know and understand the work, it needs to surrender to this ever growing fractal forest, to wait, get lost and discover differently each time.

 

 

Prefácio por Pallavi Paul

É difícil escrever sobre o mundo todo de uma só vez. É mais difícil ainda escrever sobre o mundo todo quando ele está explodindo. Além disso, parece impossível escrever sobre um mundo que se desintegra e se restabelece simultânea e constantemente a cada segundo. No entanto, deve-se tentar, pois essa auda-ciosa ablação e recriação é a própria força vital da prática de Guerreiro do Divino Amor. O Atlas Mundial “Super Ficcional” que Divino Amor teceu ao longo dos anos não é somente um empenho para a implica-ção de várias localidades como o Brasil, Bruxelas e Suíça na história maior do colonialismo, extrativismo, corrupção política e desmantelo espiritual. É uma estratégia formal para desterritorializar, criticar e fundamentalmente questionar a forma do mundo como o conhecemos. Aqui as imagens pixelizam porém também se aglomeram, são ao mesmo tempo mutiladas e adornadas, provocam-se através de cor, som e movimento. É um mundo onde o excesso dentro das imagens é destravado e posto em salmoura, assim estendendo a vida dos conceitos, histórias e políticas; não para sua exaltação, mas para examinação crítica. Divino Amor faz isto através da invenção de uma cosmogonia mítica que deu voltas, dobrou e se des-dobrou em seis “capítulos”, sendo o último “O Milagre de Helvetia”, ambientado na Suíça, país com o qual Divino Amor tem uma íntima conexão por ser meio suíço.

Antes de mergulhar mais livremente na trama amotinada de capítulos que estruturam esta exposição e a prática de Divino Amor, convém se atentar
a ideia do próprio milagre. Emergindo da palavra latina mirari, maravilharse, um milagre é em sua concepção um acontecimento que não oferece desfecho lógico. Parece requerer, como sua causa, algo além do alcance da ação humana e dos fenômenos naturais. Portanto, ao criar a impressão de uma libertação divina, ele necessariamente frustra as correntezas argumentativas e contestadoras da vida. Enquanto tem havido uma longa história de debates teológicos sobre o status do milagre dentro da religião, o que permaneceu praticamente intacto é a ideia do seu pertencimento ao reino do “sobrenatural”. Aqui o “sobrenatural” não é só uma extensão ou amplificação do “natural”, mas também pode ser lido como seu próprio oposto, onde o natural deve ser demolido para dar lugar a algo além de suas regras e expectativas. Isso poderia muito bem ser uma alegoria para os diferentes tipos de “superficções” que Divino Amor produz, onde sua pesquisa enciclopédica disfarçada dentro de animações de baixa resolução, sons estridentes e ações ostensivas interrompe as “ficções” naturalizadas das sociedades capitalistas. Os visuais atingem um frisson cataclísmico e kitschy como uma conclusão “natural” de um sistema antinatural e opressivo que reivindica uma captura divina sobre a vida.

Este milagre sobrenatural sustentado pela violência militar, racial, sexual e econômica é performado por um panteão de “deusas” no capítulo Helvético. O ministério divino instituído por Divino Amor compreende: Scopula, Friedena, Gudruna, Calvina, Aevuma, Desideria Patria, Desideria Remotta, Seminatora, Silentia, Kulma e Diewiesa Æterna, todas representando virtudes “superficcionais” de poder militar, beleza racialmente “pura”, força física, tempo moderno sagrado e cuidadosamente medido, espaço regimentado imaculado, uma raça superior atemporal, expansionismo imperialista e luxo no coração da natureza. À medida que cada uma dessas deusas aparece na tela e nas páginas da revista, Divino Amor coloca em relevo uma complexa teia de psicoses coletivas que simbolizam o poder da “Raça Superior do Olimpo”. Vampírica em sua relação com a Amazônia, a antagonista essencial da Suíça, encontramos exemplos concretos da história contemporânea que nos levam às vísceras tenebrosas da mãe Helvetia. Numa troca perversa, todas as “superfoods” como o açaí, cupuaçu e guaraná, que engrandecem a riqueza ecológica da região amazônica, são levadas para o Olimpo Helvético para nutrir seu povo, enquanto um barco da Nestlé navega pelas águas do amazonas distribuindo latas de leite condensado e produtos cheios de açúcares processados e outros químicos. O milagre de uma raça olímpica “super-abençoada” revela uma maquinação sombria, alimentada pelo poder do capital extrativista global.

Este universo milagroso pode então somente produzir catástrofe. Um jornalista, um hacker, um artesão de imagens autodidata, um feiticeiro do Photoshop, um arquiteto, um profeta travesso: Divino Amor é tudo isso ao mesmo tempo. A estética com a qual ele nos abençoa espelha a catástrofe dos milagres gêmeos do imperialismo e do capitalismo. As cores se descontrolam, espaços se dissolvem para flutuar e eterizar, o corpo se torna um playground de fantasias deslumbrantes: fezes se transformam em dados e a visão é transmutada em radiação. Cada momento da obra é uma explosão de histórias bem amarradas do século VII até o nosso imediato contemporâneo. Divino Amor, no entanto, lida com os pesados e tenebrosos resíduos dessa história com um humor catastrófico e afiado. Através de técnicas de justaposições absurdas, ele explora a cultura popular do mundo todo, usa vídeos de turismo como índices da auto-imagem de um país, implementa a hipérbole como um dispositivo narrativo; ele é capaz de nos levar ao longo de milênios com o ritmo rápido e seguro de um velocista experiente. Entrar no mundo de Divino Amor é como adentrar uma arquitetura de estilhaços vibrantes, refratando e dividindo as narrativas de poder numa revolta de cores. Através da selvageria digital da imagem, ele inventa um público que não pode simplesmente alegar conhecer e entender o trabalho; um público que precisa se render a esta floresta fractal cada vez maior; que precisa esperar, se perder e descobri-la de forma diferente a cada vez.

 

Tradução : Diego Paulino

 

 

Préface par Pallavi Paul

Écrire sur le monde entier est difficile. Il est encore plus difficile d’écrire sur le monde entier quand il est en pleine explosion. Qui plus est, il semble impossible d’écrire sur un monde qui, constamment et simultanément, se désintègre et se rétablit à chaque seconde. Et pourtant cette tentative est nécessaire, car c’est cette audacieuse ablation et recréation du monde qui est la véritable force vitale qui anime la pratique de Guerreiro do Divino Amor. « L’Atlas Superfictionnel Mondial » que Divino Amor a tissé au cours des années ne se limite pas à faire entrer divers lieux tels que le Brésil, Bruxelles et la Suisse dans l’histoire plus large du colonialisme, de l’extractivisme, de la corruption politique et de l’effondrement spirituel. Il représente aussi une stratégie formelle destinée à déterritorialiser, critiquer et interroger dans ses fondements la forme du monde tel que nous le connaissons. Ici, les images se pixellisent et s’agglomèrent ; elles sont à la fois mutilées et ornementées ; elles se provoquent entre elles à travers la couleur, le son et le mouvement. Il s’agit d’un monde où l’excès d’images est débridé et plongé dans la saumure, prolongeant ainsi la vie de concepts, de l’histoire et de la politique, non pas pour les glorifier, mais pour leur faire subir un examen critique. Pour ce faire, Divino Amor invente une cosmogonie mythique qui, à ce jour, culbute, se plie et se déplie au travers de six « chapitres » dont le dernier, « Le Miracle d’Helvetia », se déroule en Suisse, un pays avec lequel Divino Amor, étant lui même à moitié Suisse, a une relation intime.


Avant de plonger plus librement dans la trame mutine des chapitres qui structurent cette exposition et la pratique de son auteur, il est utile de nous pencher sur l’idée même de miracle. Émergeant du mot latin « mirari », s’émerveiller, un miracle, dans son sens originel, est un événement qui n’offre aucune conclusion logique. Il nécessite, dans sa cause, quelque chose qui se trouve au-delà de la portée de l’action humaine et des phénomènes naturels. En créant l’impression d’une intervention divine, il défie les courants d’argumentation et de contestation de la vie. À l’issue d’une longue histoire de débats théologiques sur le statut du miracle au sein de la religion, ce qui est demeuré largement intact est l’idée de son appartenance au royaume du « surnaturel ». Ici, « surnaturel » n’est pas seulement une extension ou une amplification du « naturel », il peut aussi se lire comme son inverse, là où le naturel doit disparaître pour laisser place à quelque chose qui excède ses règles et ses attentes. Cela pourrait fort bien constituer une allégorie pour les différentes sortes de « superfictions » que produit Divino Amor, là où sa recherche encyclopédique camouflée dans des animations à basse résolution, des sons stridents et une action ostentatoire interrompt les « fictions » intrinsèques des sociétés capitalistes. Les tableaux atteignent un sommet kitsch de fièvre cataclysmique comme conclusion « naturelle » à un système non naturel et oppressif qui prétend à une main-mise divine sur la vie.

Ce miracle surnaturel sous-tendu par la violence économique, sexuelle, raciale et militaire, est représenté par un panthéon de « déesses » dans le chapitre helvétique. Le ministère divin institué par Divino Amor comprend Helvetia, Scopula, Friedena, Gudruna, Calvina, Ævuma, Desideria Remotta et Patria, Venuma, Nidustia, Seminatora, Silentia, Kulma, Diewiesa Æterna, lesquelles représentent toutes les vertus « superfictionnelles » de la puissance militaire, de la beauté racialement pure, de la force physique, du temps moderne sacré et soigneusement mesuré, un espace immaculé strictement régimenté, une race supérieure atemporelle, de l’impérialisme expansionniste et du luxe au cœur de la nature. Au fur et à mesure que chacune de ces déesses apparaît à l’écran et dans les pages du magazine, Divino Amor met en évidence la toile complexe de psychoses collectives qui symbolise le pouvoir de la « race dominante de l’Olympe ». Vampirique dans sa relation à l’Amazonie – l’antagoniste suisse par excellence –, nous rencontrons des exemples concrets tirés de l’histoire contemporaine qui nous emmènent dans les ténébreuses viscères de mère Helvetia. Dans un échange pervers, toutes les « super nourritures » telles que l’açaï, le cupuaçu et la guarana, parts intrinsèques de la richesse écologique de la région amazonienne, sont emmenées en Helvétie pour nourrir son peuple, tandis qu’un bateau Nestlé s’enfonce dans les eaux de l’Amazone, distribuant des boites de lait condensé et des produits chargés de sucres manufacturés et d’autres produits chimiques. Le miracle d’une race de l’Olympe « super bénie » nous dévoile une sombre machination, nourrie par le pouvoir du capital extractiviste global.

Ainsi, cet univers miraculeux ne peut produire qu’une catastrophe. Un journaliste, un hacker, un artisan autodidacte des images, un sorcier du photoshop, un architecte, un prophète espiègle : Divino Amor est tout cela à la fois. L’esthétique avec laquelle il nous bénit reflète la catastrophe des miracles jumeaux de l’impérialisme et du capitalisme. Les couleurs sont déchaînées, les espaces se dissolvent, flottent et disparaissent dans l’éther, le corps devient le terrain de jeux de fantaisies délirantes, les fèces deviennent des données et la vision se transmute en radiation. Chaque moment de l’œuvre est une explosion d’histoires bien ficelées du 7e siècle à notre immédiat contemporain. Divino Amor, cependant, joue avec les lourds et ténébreux résidus de cette longue histoire avec un sens acéré de l’humour et de la catastrophe. Au travers de techniques de juxtapositions absurdes, explorant les cultures populaires du monde entier, utilisant les vidéos touristiques comme des indices de l’image qu’un pays cherche à se donner de lui-même, déployant l’hyperbole comme un dispositif narratif, il parvient à nous faire traverser des millénaires au rythme d’un coureur chevronné. Entrer dans le monde de Divino Amor, c’est entrer dans une architecture de tessons vibrants, réfractant et éparpillant les récits du pouvoir dans une émeute de couleurs. Au travers de cette sauvagerie digitale de l’image, il est capable d’inventer un public qui ne peut pas simplement prétendre connaître et comprendre son travail, mais est contraint de capituler devant cette forêt fractale en permanente expansion, d’attendre, de se perdre et de la découvrir à chaque fois sous un nouveau jour.


Traduction: Eric Golay



 




 

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